Quem são os brasileiros que perderam o Censo?



 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fundado em 1936, é uma instituição do Estado.

Uma das atribuições fundamentais do Estado em um país tão desigual como o Brasil é elaborar políticas públicas baseadas em evidências que sejam capazes de reduzir as desigualdades sociais e promover a realização dos direitos sociais, garantidos pela Constituição: direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e infância e assistência aos desamparados, conforme definido no art.6º da Constituição Federal de 1988.

Para que isso seja possível, uma das principais ferramentas do Estado são as estatísticas sociais. É preciso conhecer de maneira detalhada as características da população e reconhecer sua diversidade: número de pessoas, composição por gênero, idade, nível de instrução ou renda, sua distribuição pelo espaço, em termos de regiões, estados, municípios ou bairros, e suas diversas formas de mobilidade espacial cotidiana, entre cidades ou mesmo em uma mesma cidade, para trabalho e/ou estudo.

Entretanto, como reflexo do contexto social e político atual e apesar dos esforços institucionais para suprir tais lacunas, existem grupos que se ficaram de fora da contagem nacional realizada pelo IBGE no Censo Demográfico de 2022. São grupos compostos por setores que possuem relações diferentes com o Estado. Esses grupos ocupam estratos opostos, considerando os níveis de renda, como foi descrito no Seminário “IBGE e CENSO Demográfico 2022: realização, produtos e agenda de trabalho 2023”,  realizado no Auditório Zeferino Vaz (IE Unicamp), no dia 2 de maio de 2023.



No extremo de renda mais baixa estão aqueles que o Estado não consegue alcançar com as suas políticas. Trabalham muitas horas por dia, por isso dificilmente são encontrados pelos recenseadores. Ou são pessoas que residem em áreas dominadas por milícias, ou facções criminosas, que substituem o Estado de Direito. Esse grupo de baixa renda está fora do âmbito das políticas públicas, consequentemente, uma parte dessa população está fora do Censo de 2022, ou seja, não foi contabilizada.

Existe ainda uma outra parcela da população que se encontra no estrato oposto, de maior renda. Uma parte dessa população vive em conflito com o Estado. É uma população que não é sensibilizada pelo discurso dos direitos sociais e das políticas públicas. Provavelmente porque considera que o Estado deveria ser mínimo, não deveria investir em políticas sociais. Para esse grupo, as ações derivadas das políticas públicas representam dificuldades na regulamentação das atividades econômicas; enquanto a garantia dos direitos sociais e ambientais impõe barreiras e limites à exploração exagerada da população.

O grande desafio dos próximos anos será trazer de volta o senso de pertencimento à sociedade dos diferentes grupos populacionais.

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